Parábola dos Ruis
Blog eclético, hermético e patético
Seu eu dissesse ao mar que queria ser a espuma...
O instrutor de condução indicou que o rapaz deveria sair do estacionamento e que, de seguida e em segurança, teria que inverter o sentido de marcha. O rapaz engatou a marcha-atrás, andou um metro às arrecuas e virou o volante para a direita. Foi já em paralelo ao lancil do passeio que se dedicou ao segundo pedido do mestre. Toca de meter a primeira e de voltar a fazer girar o volante. Com a manobra quase a meio e o carro abandonado no meio da estrada, o instrutor trava-lhe os pedais e ordena-lhe de forma pouco simpática:
Daquelas frases que nos ditam o estado d'alma. Sem querer escrevi-a e só depois é que percebi a profundidade do que tinha escrito.
Contava a Ana a história do Chico, o melhor amigo da filha. Excelente aluno. O melhor dos estagiários lá da redacção. Primeiro a notícia de rodapé, depois o artigo numa das primeiras páginas e finalmente um pontapé no cú dali p'ra fora porque "o que não falta é gente a escrever".
No meu quarto sentei, deitei e pensei...
A empregada do restaurante anotou as costeletas grelhadas que eu pedira e perguntou com um ar muito decidido:
Hoje, na minha aula de Inglês, defendi que o Benfica é uma das mais fortes marcas portuguesas.
Estive a pensar acerca de um texto que li no blog de um amigo meu. Falava basicamente da geração que entra nos trinta e das relações fugazes. O medo que nos assola, nas relações com prazo de validade, aquelas que mal começam e nós já sabemos quando vão acabar. Ou aquelas que nem chegam a começar, pois nem chegam a ter prazo.
Depois de um dia de trabalho, vejo-me desconsolada. Chego a casa e descalço-me, hábito já antigo. E que me faz lembrar que cheguei ao meu cantinho, e ali mesmo ao lado da porta, posso descalçar todos os males que trago.
Tiro o casaco, solto o cabelo, vou a casa de banho e olho para o espelho, as vezes faço a pergunta quem és tu. Mas hoje não. Espelho que há muito tempo, partilha comigo as minhas alegrias e tristezas.
Pergunto-me quantas vezes viu o meu sorriso, as minhas gargalhadas, o meu sussurrar acompanhada ou não. Quantas vezes viu, o meu olhar triste, as minhas lágrimas. Quantas vezes não o deixei ver, virando-lhe as costas. Todas as vezes, mostra-me tal como estou, o seu olhar reflecte-me, e eu vejo-me nele. Mas hoje vou virar-lhe as costas.
Vou a varanda, olho para baixo, e um grupo de jovens lança palavras para o ar. Mesmo sem saber do que falam, sempre me deu gosto ouvir o som das palavras dos outros. Não sei quem são, também não sabem quem sou. Viro-lhes as costas.
Bebo um copo de água e entre um gole e outro, olho para o copo e penso, tão transparente, quem dera que tudo fosse tão transparente.
Não me apetece comer, ou melhor não me apetece cozinhar só para mim. Pelo menos não agora, deixo que o meu corpo avise quando tem fome.
Ia ligar a televisão, mas não, a esta hora devem estar a passar 99% de más notícias e uma boa. A boa já deve ter passado, por isso hoje, vou ouvir música. Escolho um cd que já está, mais que gasto de tanto tocar a mesma música. Mas que eu insisto, é esta que quero ouvir, esta ajuda-me a chorar sem lágrimas.
Acendo uma vela, e lá começo o ritual, inclino-me e deito o meu corpo no sofá, e fecho os olhos. Deixo a música embalar-me pelas ruelas da vida, gosto desta vida.
Tem os sabores dos momentos amargos, tem a delícia dos momentos felizes, tem o aroma da vida. Estou com fome…
Que ontem foi Halloween, aqui está a homenagem que queria ter deixado antes, mas andei na rambóia pelo que só hoje me é possível blogar.