A Guilda dos Melancólicos

Blog eclético, hermético e patético

terça-feira, abril 17, 2007

A malta das 10 horas

É uma questão que me coloco muitas vezes. Qual o recorte social da longa fila de trânsito de quando já são quase 10 horas? São muitas almas, ali no para-arranca, das muitas vias-lentas de caracol que levam a Lisboa. Irão todos atrasados para ir trabalhar? É que é tanta gente: será que alguém já chegou ao trabalho? Mas quem poderá ser este povo?! O turno dos horários menos convencionais, os estudantes, os comerciais, os externos, os perdidos, os achados, os veraneantes? É que eu creio que essa gente toda junta não chegaria para entupir o gargalo da cidade. Tenho portanto que presumir que muitos vão, como eu, chegar atrasadíssimos ao trabalho. Olho para o tipo que vem atrás de mim. Já sua, já bufa. Um genuíno atrasado! És cá dos meus, não te imaginavas nesta salsada e agora, bonito, o que é que dizes ao chefe? Tens tempo para pensar, meu amigo, que antes das 11 não estás lá... Mas e o casalzinho do Focus que rola pachorrento na fila do lado. Gravata, malta dos serviços, não há que enganar. Mas que ar descomprometido, credo! Saberão mais do que eu? O chefe hoje não vai. Os chefes hoje não vão, toda a gente sabe e só eu me estou para aqui a consumir. Mas foda-se, a vocês não vos tira do sério esta procissão?!!! E na lógica do devaneio passo à pergunta logicamente seguinte. Estão habituados a isto... Será? São vocês que cá estão todos os dias? É que essa é que é a minha principal dúvida! O pandemónio matinal até à Ponte 25 de Abril é uma escala rotativa ou é sempre mais do mesmo, os suspeitos do costume. Eu sei que cá estou de quando em vez, e em cada asneira reiterada desponta mais um cabelo branco e juras e rezas de que prometo que nunca mais, se me safar desta.
Passei a portagem. Rola-se bem. Isto vai. Mais tardar às 11 estou lá. Vamos começar a pensar no que raio vamos dizer ao chefe.
P.S. - Para os que já se indagam, este post é uma ficção vagamente baseada em factos da minha vida pessoal... ... mas que não ocorreram hoje, porque até fui dos primeiros a entrar na empresa.