Fala me de ti, mas sem palavras. Fala-me de ti, mas sem olhares para mim. As tuas palavras magoam-me e o teu olhar fere-me. Não me pertencem, mas fala-me de ti.
Conta-me porque tem de ser assim, conta-me porque vais assim. Não tem princípio, nem fim, é uma história sem sabor.
Sentes-me, eu sei que é difícil, mas sentes-me, consegues alcançar a minha dor? Sente-me e diz-me que não, que não é preciso ser assim.
Que tudo, não passa de um sonho mau, e que vou acordar, nos teus braços e não nos dela, pois eu não a quero, não a quero aqui entre nós. É por causa dela que eu não consigo olhar para ti, que não consigo falar.
Fala-me de ti, mas sem me tocar, o teu toque da cabo de mim, destrói as minhas defesas, faz-me querer-te e eu não te posso querer.
Conta-me o que te faz olhar para mim, conta-me porque prendeste o meu olhar. Dói-me olhar para ti, dói-me tanto, que quero fechar os olhos até não te ver mais.
Sentes-me agora, sentes-me no ar que respiras, eu sinto-te aqui por detrás do meu pescoço, sinto o teu braço no meu peito, ficou como uma tatuagem o desenho do teu braço.
Acorda-me, diz que é mentira, que somos só nós, há muito tempo, e que isto é só medo. Este medo que te afasta, que te faz querer estar confortável, que faz o teu coração querer parar de palpitar.
Falo de ti, porque vives em mim, desde o dia, que o meu olhar percebeu que me vias. Eu não queria que me visses, não ali, não assim. Melhor, eu não queria a ti, mas tu viste-me e eu vi-te.
Conto-te que ficaste comigo, e em mim todos estes dias, que foram tantos e tantos e agora nada, nem dias, nem horas, nem minutos, ou será, nem abraços, nem beijos, nem amor.
Sinto que te quis toda a vida. Sinto que tenho medo, que sempre me recolhi no silêncio, para não te provocar, para que não desses o salto.
E agora, choro por querer-te, choro por saber que não posso lutar, não te posso roubar. Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, alguém roubou-te de mim e eu quero-te de volta.
Fala-me de ti, estou aqui
Desculpem-me o desabafo, mas hoje sinto-me com um mau perder.